Chegou a hora de quebrar os tabus e assumir o controle financeiro

Falar sobre dinheiro ainda é, para muitas mulheres, um campo delicado, cercado de silêncios, constrangimentos e receios. Seja nas conversas com o parceiro, no ambiente de trabalho ou até mesmo entre amigas, o assunto costuma ser evitado — como se não fosse apropriado, elegante ou necessário.

No entanto, é justamente por causa desse silêncio que tantas mulheres ainda enfrentam dificuldades financeiras, dependência emocional e falta de autonomia para tomar decisões importantes sobre suas próprias vidas. Falar sobre dinheiro é mais do que uma questão prática: é um ato de empoderamento.

Este artigo é um convite para que você, mulher, se permita olhar para suas finanças com mais liberdade, conhecimento e coragem. Descubra por que você pode — e deve — falar sobre dinheiro, e como essa escolha pode transformar sua história.

Por que ainda é tabu falar sobre dinheiro?

Durante muito tempo, as mulheres foram excluídas das decisões financeiras, tanto no âmbito familiar quanto no mercado de trabalho. A herança cultural patriarcal ensinou que cuidar do dinheiro era tarefa masculina, enquanto à mulher cabia apenas o papel de administradora do lar — e, mesmo assim, com um orçamento limitado e supervisionado.

Essa mentalidade ainda influencia, de forma sutil ou explícita, a forma como lidamos com nossas finanças. Muitas de nós sentimos vergonha de negociar salários, de cobrar por nosso trabalho ou de assumir publicamente nossos objetivos financeiros. Há um medo recorrente de parecer interesseira, materialista ou ambiciosa demais — como se querer segurança e independência fosse algo condenável.

Além disso, os dados mostram que, mesmo hoje, homens e mulheres se comportam de maneira distinta quando o assunto é dinheiro. Os homens, geralmente, são incentivados desde cedo a investir e multiplicar sua renda, enquanto as mulheres são ensinadas a economizar e “não gastar demais”.

O que é Tabu? 

Tabu é um assunto proibido, evitado ou cercado de restrições sociais e culturais. Ele representa algo que, por motivos religiosos, morais, históricos ou psicológicos, não deve ser falado, praticado ou sequer pensado em certos contextos.

O termo tem origem na palavra “tapu” da língua polinésia, que significa proibido ou sagrado.

Ou seja, um tabu não é necessariamente uma lei escrita, mas sim uma regra implícita da sociedade, que impõe limites ao comportamento ou ao discurso. No último parágrafo deste artigo você encontra uma breve história de como surge o tabu na psicologia.

A importância de falar abertamente sobre dinheiro

Romper esse ciclo de silêncio é fundamental. Falar sobre dinheiro com clareza e naturalidade fortalece nossos relacionamentos — sejam eles afetivos, familiares ou profissionais. Negociar salários, discutir orçamentos domésticos ou traçar metas financeiras com o cônjuge são atitudes que geram mais confiança e transparência.

Mais do que isso, falar sobre dinheiro é um passo importante para o autoconhecimento. Ao compreender como lidamos com nossas finanças, conseguimos identificar crenças limitantes, comportamentos repetitivos e oportunidades de crescimento.

Situações como definir prioridades de gastos, decidir por uma compra importante ou planejar uma mudança de carreira são exemplos práticos em que o diálogo financeiro se torna não só necessário, mas transformador.

Educação financeira feminina: por onde começar?

A boa notícia é que nunca é tarde para começar. Há diversos caminhos acessíveis e eficazes para desenvolver sua educação financeira. Entre eles, destacam-se:

Cursos online gratuitos ou pagos, com linguagem acessível e foco no público feminino.

Livros como Me Poupe! de Nathalia Arcuri ou Mulheres que Correm com os Lobos, que, embora não seja sobre finanças, inspira a reconexão com o próprio valor.

Perfis no Instagram e YouTube voltados à educação financeira de mulheres, como Nath Finanças e Carol Dias.

Um bom começo é montar seu orçamento pessoal: anotar todas as entradas e saídas, entender para onde vai seu dinheiro e, a partir disso, planejar metas reais e alcançáveis.

Existem também ferramentas e aplicativos, como Mobills, Organizze ou GuiaBolso, que ajudam a visualizar sua saúde financeira com mais clareza.

Você pode – e deve – investir

Investir não é um território masculino — e nunca foi. O que faltava era acesso à informação e encorajamento. Hoje, as mulheres estão cada vez mais presentes nas corretoras e plataformas de investimento, ocupando um espaço que também é delas por direito.

Antes de investir, é importante conhecer seu perfil de investidora:

Conservadora: prefere segurança, mesmo com menor rentabilidade.

Moderada: aceita algum risco, buscando equilíbrio.

Arrojada: está disposta a correr riscos em busca de maiores retornos.

Ainda existem mitos que afastam mulheres desse universo: que é complicado demais, arriscado demais ou não é para mim. A realidade é que, com um pouco de estudo e acompanhamento, qualquer mulher pode — e deve — investir em seu futuro.

De acordo com dados recentes da B3, o número de mulheres investidoras dobrou nos últimos anos. Isso mostra que a mudança já começou — e você pode fazer parte dela.

Quebrando os tabus na prática: exemplos reais

Falar sobre dinheiro deixa de ser tabu quando começamos a normalizar o tema no dia a dia — e isso não exige grandes discursos ou atitudes revolucionárias. Pequenas ações, repetidas com consciência, têm o poder de transformar nossa relação com as finanças e abrir caminhos para outras mulheres ao nosso redor.

A mudança começa nas pequenas escolhas

Você pode começar dizendo “não” para algo que não está alinhado com suas prioridades, ou até mesmo perguntando, com naturalidade, quanto uma amiga pagou por determinado serviço ou produto. Pode parecer banal, mas essa abertura rompe o silêncio e cria um ambiente de troca verdadeira.

Conversas sinceras entre mulheres

Quando duas mulheres falam abertamente sobre dinheiro — salários, dívidas, investimentos, sonhos — algo se liberta. Há empatia, apoio, e, muitas vezes, surgem dicas práticas que mudam tudo. Essa é a sororidade financeira: uma rede de fortalecimento mútuo onde não há julgamento, mas sim aprendizado e incentivo.

Exemplos reais de transformação

Uma mulher que saiu de um relacionamento abusivo porque, pela primeira vez, conseguiu juntar um fundo de emergência.

Uma dona de casa que começou a vender bolos e aprendeu a precificar corretamente seu trabalho, aumentando sua autoestima e autonomia.

Uma profissional que perdeu o medo de negociar seu salário após entender o valor do seu tempo e da sua entrega.

Essas histórias são mais comuns do que imaginamos. E todas elas começaram com uma escolha simples: olhar para o dinheiro de frente, sem vergonha, sem culpa.

Falar sobre dinheiro é um ato de amor-próprio

Existe um ponto em que a educação financeira se encontra com o autocuidado. E é aí que entendemos que falar sobre dinheiro não é só uma questão de números, mas de respeito por si mesma.

Cuidar das suas finanças é cuidar da sua vida

Assim como cuidamos da saúde, da casa, da família e da alma, precisamos também cuidar das finanças. Porque quando temos clareza sobre o que entra e sai da nossa conta, conseguimos fazer escolhas com mais liberdade, sem agir no impulso ou por medo.

Autonomia para viver com mais propósito

O dinheiro bem administrado permite que você diga sim ao que realmente importa — seja uma viagem, um tempo sabático, um novo curso, ou até uma mudança de carreira. Ele também te dá o poder de dizer não ao que te adoece, aprisiona ou limita. Essa autonomia é transformadora.

Uma relação espiritual também se constrói

Para quem, como eu, acredita que tudo tem um propósito maior, até o dinheiro pode ser visto como um instrumento de bênção. Não como fim, mas como meio para viver com dignidade, ajudar ao próximo, realizar sua missão com tranquilidade. Falar sobre ele com naturalidade é reconhecer que prosperidade também é vontade divina.

Chega de se anular: sua história merece um novo capítulo

Amar-se de verdade vai além do autocuidado com aparência ou palavras bonitas no espelho. É um compromisso íntimo de não mais trair a si mesma — especialmente no que diz respeito à sua vida financeira.

Quantas vezes você já adiou um sonho porque acreditou que não era o momento? Quantas vezes aceitou menos, porque achou que era o suficiente? Viver endividada, com medo de prosperar ou sentindo culpa por investir em si mesma não é normal — é um sinal de que algo dentro de você foi ensinado a se contentar com pouco.

Chega de viver no automático, repetindo padrões herdados, silenciosamente sabotando seu futuro. O amor-próprio também se manifesta quando você assume as rédeas da sua trajetória, encara seus números de frente e declara: eu mereço mais do que apenas sobreviver.

Organizar suas finanças não é só uma questão de planilha — é um ato de resgate. De autoestima. De alinhamento entre quem você é e a vida que deseja construir. Quando você se ama, não negocia sua liberdade. Você planta escolhas conscientes, e colhe paz.

Não é sobre gastar mais. É sobre viver melhor, com verdade, coerência e dignidade. E isso começa quando você escolhe sair da invisibilidade — inclusive diante do próprio dinheiro.

Curiosidade: Aqui estão os principais caminhos pelos quais os tabus surgem na psicologia:

Freud e os desejos reprimidos

Sigmund Freud foi um dos primeiros a associar o conceito de tabu a desejos inconscientes. Segundo ele:

Muitos tabus (como incesto ou morte) surgem para reprimir desejos humanos universais, mas socialmente inaceitáveis.

Esses desejos são empurrados para o inconsciente e se tornam proibidos, sendo tratados com vergonha, medo ou culpa.

Exemplo: o tabu do incesto seria uma forma de conter o desejo infantil pelo pai ou pela mãe (complexo de Édipo), e proteger a estrutura familiar.

Mecanismo de defesa social

Tabus também são formas de defesa coletiva. Quando um tema é emocionalmente doloroso, gerador de medo ou ameaça, a sociedade o transforma em tabu para proteger seus membros.

Exemplo: falar sobre suicídio ou morte é tabu em muitos contextos porque obriga as pessoas a confrontarem medos profundos e existenciais.

Condicionamento social e cultural

Desde pequenos, somos ensinados por nossos pais, escola e sociedade a evitar certos comportamentos ou assuntos. Com o tempo, isso se internaliza e se transforma em autocensura.

Exemplo: meninas que ouvem repetidamente que “não é elegante falar de dinheiro” tendem a crescer acreditando que discutir salário ou investir é inapropriado — um tabu aprendido.

Função reguladora do comportamento

Psicologicamente, tabus ajudam a manter ordem e previsibilidade nas relações sociais. Eles regulam comportamentos para que o convívio em grupo seja possível, mesmo que à custa da liberdade individual.

Exemplo: o tabu de falar sobre problemas mentais surgiu historicamente como uma forma de evitar o desconforto ou o estigma sobre algo pouco compreendido.

Chegou a hora de quebrar esse tabu. Falar sobre dinheiro é uma necessidade, uma responsabilidade e, principalmente, um direito de toda mulher. Não é preciso ser especialista, nem ter muito — basta ter coragem de começar.

E você? Com quem pode iniciar essa conversa hoje?